quarta-feira, 19 de março de 2008

11) A Guerra (nada fria) do Século XX - Nintendo X Sega - Parte I

Pensaram que eu tinha desistido do blog? Que nada...

A resposta para o atraso do 12º post desse blog (que estava quase que religiosamente semanal) é simples: falta de tempo, devido aos compromissos acumulados do Doutorado. Mas agora estou um pouco mais folgado, o suficiente para preparar o post da semana passada (hehehe....).

Hoje, resolvi retomar aos "especiais" que comecei há quatro semanas. Acredito que alguns de vocês perceberam que sempre cito a briga entre SEGA X Nintendo nas décadas de 80 e 90 como "A Briga do Século", "O Duelo do Milênio" ou qualquer outro título pomposo que vocês possam imaginar. Mas esses títulos não foram incluídos à toa: se vocês acham que a batalha entre os atuais portáteis da Sony (PSP) e da Nintendo (Nintendo DS) é digna de ser chamada de épica, vocês precisavam ver como era nas décadas de 80 e 90. Nessa época, tínhamos apenas duas produtoras de consoles: SEGA e Nintendo. E ambas sedentas por conseguir o maior número possível de admiradores; ambas gerando torcidas organizadas que defendem com unhas e dentes os seus "times"; ambas com impactantes e agressivas campanhas de marketing, enaltecendo as qualidades dos seus consoles (e tripudiando do console adversário); enfim, essa época pode ser comparada com a Guerra Fria entre EUA e URSS que perdurou durante três décadas: duas superpotências lutando pela hegemonia mundial. E aqui, irei contar alguns capítulos dessa "Guerra dos video-games".

  • 1983 - A Entrada do Nosso Primeiro Competidor

Até essa época tivemos nos EUA o sucesso do "Pong" (talvez o primeiro boom em se tratando de videogames);os grandes estouros nos flipperamas "Space Inveders" (que ganhou uma versão comemorativa de 30 anos fenomenal para o Nintendo DS) e "Pac Man", lançadas pela Taito e pela Namco, respectivamente, o que impulsionou de vez os Arcades (mais conhecido por aqui como fliperamas); e a Atari bem distante na ponta dos consoles domésticos, destroçando sem dó nem piedade qualquer adversário, durante o final da década de 70/começo da década de 80. Mas era do outro lado do Mundo que uma gigante da indústria dos games começava a chamar a atenção.

A Nintendo foi criada por Fusajiro Yamauchi em 1889 e fabricava cartões artesanais de um tipo de baralho tradicionalmente japonês chamado Hanafuda. Em 1950, Hiroshi Yamauchi, bisneto de Fusajiro, fez uma parceria com a Disney para produzir cartas estampadas com seus personagens.
Em meados da década de 1970 a empresa começa a perder mercado para fabricantes de jogos eletrónicos como Bandai e Atari e entra definitivamente neste ramo com a fabricação de pequenos aparelhos eletrónicos equipados com LCD, chamados Game & Watch. O então criador Gunpei Yokoi daria início à era digital da empresa que prosseguiria ao longo das décadas de 1970 e 1980, com a fabricação de fliperamas. Mas os fliperamas da Nintendo não emplacavam nos Estados Unidos.
Então, Shigeru Miyamoto, um designer trabalhando desde 1977 na empresa, fora chamado para criar um jogo que pudesse usar os gabinetes do mal-sucedido Radar Scope. Miyamoto, que não entendia nada de tecnologia, criou um game sobre um encanador chamado Jumpman que salvava sua namorada de um gorila. Donkey Kong, lançado em 1981, foi um sucesso, e revelou dois personagens: o gorila-título, e Mario, que se tornaria mascote da empresa.

Mas, em 1983, a Nintendo deu a sua primeira grande cartada no mundo dos games: em julho desse ano, resolve lançar o seu primeiro console doméstico no Japão: O Nintendo Family Computer, ou Famicom para os mais íntimos:


Não estranhem o formato "brinquedo de plástico" dele: na época, era exatamente essa a intenção da empresa. O console faz sucesso na terrado sol nascente, devido ao grande apoio das softhouses indepedentes (Namco, Konami, Hudson, dentre outras), que lançavam suas conversões dos jogos de arcade (além de jogos feitos especialmente para o console). O Famicom foi favorecido também pela crescente queda da popularidade do Atari, assumindo o posto de grande empresa da área de games no Japão.

  • 1984 - O Ano nebuloso dos Games


Entretanto, esse sucesso não foi suficiente para que aNintendo explorasse outros lares pelo mundo. Isso porque, em 1984, ocorreu nos EUA o que se chamou de "crash" dos videogames: com a crescente popularização dos computadores, ninguém mais se interessava em comprá-los. Afinal, para que alguém nos EUA gastaria U$$ 150 num console, se poderia investir U$$200 em um computador (munido de vários programas educativos e, vejam só, de jogos!!). Isso sem falar da exploração desenfreada e sem limites da "novidade": nesse mesmo ano, várias empresas que não eram ligadas ao mundo dos games resolvera criar seus "jogos" para divulgarem a sua marca (acreditem, até barracas de cachorro-quente queriam se aproveitar dos tais "joguinhos"). Com isso, um mundo sem tamanho de jogos foram lançados. Como quantidade quase sempre não está ligado a qualidade (ainda mais quando não se têm profissionais do ramo), não precisa nem dizer que essa tentativa resultou em um fracasso retumbante.

O baque foi tão grande nos EUA que o mercado de games precisou de dois longos anos para se restabelecer.

  • 1986 - O Primeiro encontro dos gigantes


1986 ficará para sempre marcado como o ano em que essas duas gigantes se degladiam pela primeira vez.

A Nintendo, depois de vários testes de mercado feitos em Nova York para vender o seu ocnsole no mercado americano no ano anterior (marcados por total desconfiança por parte dos varejistas, chegando ao ponto da Nintendo ter que reformuar o seu console para retirar a aparência de "brinquedo"; além de concordar em recomprar tudo que não fosse vendido pelas lojas), lança o seu videogame (que já era um grande sucesso no Japão) com o nome de NES (Nintendo Entertainment System):



MAs, nesse mesmo ano, outra empresa resolve entrar na disputa.

A SEGA foi fundada em 1940 na cidade de Honolulu, Havaí, por Martin Bromely, Irving Bromberg e James Humpert, para fornecer divertimentos pagos ao pessoal das bases militares americanas. Bromely sugeriu a mudança para Tóquio em 1951, e a "Service Games do Japão" (SeGa) foi registrada em Maio de 1952.

Em 1966, um ano depois de se fundir com a Rosen Enterprises, a SEGA lança o seu primeiro "Jogo": um simulador de submarinos chamado "Periscópio" que alcançou sucesso estrondoso no mundo inteiro.

A partir dái, a empresa se especializa em lançar jogos para Arcades, como Frogger e Zaxxon. A produção de jogos era tão grande que foi necessária sua divisão entre Sega da América e do Japão devido à imensa carga de trabalho. Para se ter uma idéia do sucesso da SEGA com os Arcades, o lucro das duas divisões juntas em 1982 foi de US$ 214.000.000,00.

Com o crash dos videogames, a Gulf & Western vendeu a divisão americana da Sega para a Bally Manufacturing Corporation. A Sega do Japão foi comprada por 38 milhões de dólares por um grupo de investidores liderados por Rosen e Hayao Nakayama, um empresário japonês que havia sido dono de uma das empresas compradas por Rosen. Nakayama se tornou o novo CEO da Sega, e Rosen assumiu a direção de sua subsidiária nos Estados Unidos. Em 1984, o conglomerado japonês CSK comprou a Sega, e a renomeou para Sega Enterprises Ltd., com sede no Japão, e dois anos depois, suas ações estavam sendo negociadas na Bolsa de Valores de Tóquio.

O início da entraga da SEGA no mundo dos consoles data de 1981, com o SG-1000:


Entretanto, esse videogame não representou nenhuma ameaça para as grandes empresas do mercado de video-games da época (especialmente com a entrada da terceira geração de games, através do Colecovision um ano depois). A entrada da Sega no mercado de games foi bem "tímida". O SG-1000 alcançou apenas os mercados do Japão (seu mercado principal) e da Austrália, porém, algum tempo depois do lançamento do SG-1000, a Telegames trouxe para os EUA o Personal Arcade; um clone do Dyna da Bit Corp que tinha uma entrada para cartuchos do Colecovision e outra para SG-1000.

Em julho de 1984, a SEGA lança o o SG-1000 II, uma reformulação do SG-1000 com mais recursos e com um acessório (teclado) que transformava o console em um computador doméstico. Também foi lançado um opcional chamado CardCatcher que permitia que o console lesse jogos em cartões. O CardCatcher viria incluso no futuro SG-1000 Mark III, que não é nada mais do que o SG-1000 II reformulado e com mais memória RAM.



O SG-1000 Mark III fez grande sucesso no Japão, servindo com incentivo para que, depois do crash dos videogames, a empresa arriscasse vôos mais altos. Sendo assim, depois de algumas reformulações no SG-1000 Mark III, seria lançado pela SEGA nos EUA, no mesmo ano do Famicom, o Master System, proporcionando o primeiro grande embate entre as duas empresas:

Comecava assim o primeiro round da grande batalha do século.

  • Os socos desferidos e o primeiro vencedor
Bom, para melhor análise dessa batalha, vamos ver as especificações dos combatentes:

Especificações
NES/
Famicom
Master System
Processador

6502
(8 bit)
Z-80 A
(8 bit)
Velocidade
1.79 Mhz 3.58 Mhz
Resolução Gráfica (pixels)
256 X 240
240 x 226
Paleta de Cores
52 256
Cores Simultâneas na Tela
16 52
Máximo de Sprites na Tela
64 16
Tamanho dos Sprites
8 X 16 8 X 8

Bom, para aqueles que só viram um bando de números e palavras indecifráveis, vamos resumir isso: Ambos, numa análise geral, são semelhantes, com relativa vantagem para o Master em processamento (vide a velocidade do processador), que perdia levemente para o NES na resolução gráfica e no som. Eram como dois boxeadores médio-ligeiros altamente técnicos e com estilos de luta bastante semelhantes, uma luta imprevisível.

O resultado: A Nintendo, já ocm uma base estabelecida no mercado desde 1983 (o lançamento do seu console no Japão); a ineficiência da empresa contratada pela SEGA para fazer o arketing do seu videogame; além do fato da exclusividade da maioria absoluta das softhouses para produção de jogos para o NES (fato esse classificado de Monopólio pelas concorrentes, e que foi quebrado anos depois), abocanhou 90% do mercado de videogames na América, deixando os seus concorrentes a ver navios. O Master System, por conta da cláusula de exclusividade das outras produtoras de jogos, ficava a mercê dos jogos produzidos pela SEGA, que se mostravam, apesar da sua qualidade, impotentes para disputar com a infinidade de empresas do mesmo porte (Namco, Konami, Hudson, Midway, a própria Nintendo, entre outras) que municiavam o NES.

Entretanto, no Brasil a SEGA virou o jogo, tornando o Master System bastante popular. Lançado por aqui em 1989, graças a efetiva comercialização do console pela Tec Toy (que produz os videogames da SEGA até hoje) e a reserva de mercado que imperava na época (que impedia a Nintendo de comercializar diretamente o seu console, gerando uma infinidade de "clones legalizados" do seu sistema por aqui, como o Bit System, o Top Game, o Super Charger, entre outros), o console fez um tremendo sucesso em terras tupiniquins. Um outro fator para o sucesso do console foi a produção (ainda que através de adaptação de outros jogos da própria SEGA) de jogos Nacionais, com temas bastante conhecidos daqui. Isso criou uma certa identidade e empatia dos gamers brasileiros da época com o console, dando muitos frutos para a Tectoy. Abaixo temos algumas dessas "preciosidades" lançadas para o console:


Aqui temos Chapolin X Drácula. Aproveitando o sucesso da série criada por Roberto Bolãnos, a Tec Toy lancou esse jogo em 1993;


O primeiro grande "jogo brasileiro": Aproveitando os gráficos e a jogabilidade de "Wonder Boy in Monster Land", "Mônica no Castelo do Dragão" se torna um sucesso instantâneo com o seu lançamento, em 1991;


Ainda aproveitando personagens infantis famosos no Brasil, a Tec Toy lança em 1997 "Sítio do Pica-Pau Amarelo", sem repetir o sucesso de vendas de "Mônica e o Castelo do Dragão";


Vale lembrar ainda a série de RPG's "Phantasy Star", que, apesar de não ter a produção e o desenvolvimento da Tec Toy, foi interamente traduzida para o português quando foi lançada no Brasil.


Bom, por hoje vou ficar por aqui. Apenas procurei preparar o terreno para o grande ápice dessa batalha entre a SEGA e a Nintendo, que se deu no início da década de 90.

Aguardem que semana que vem continuarei com esse especial SEGA X Nintendo, abordando a quarta geração dos consoles, os amados Super Nintendo e Mega Drive. Um abraço e bons games a todos!!!

2 comentários:

none disse...

Beleza "brother"?

Descobri teu blog mei q por acaso no google...gostei da "liguagem" q vc usa pra falar dos games antigos, nota-se q vc é realmente um grande fã e entende do assunto.

Parabéns, valeu, fuuui!

Anônimo disse...

Haha, Mega Drive x Nintendo é um troço clássico demais. A maioria de nós só podia ter um deles, mas jogava o outro na casa de colegas. Dá uma nostalgia de DK, inclusive...